domingo, 7 de agosto de 2016

Resenha do livro: Cinderela Pop - Paula Pimenta.

Boa noite, pessoas. Então, vim aqui hoje escrever um pouco sobre o livro Cinderela Pop, escrito pela Paula Pimenta (escrever sobre o escrito, pois é). Eu vejo o livro como voltado a um público que se encaixa entre 8 e 15 anos, portanto, como diz a Tatiana Feltrin do TLT “Eu vesti minha capinha” e li o livro. Não que eu esteja em uma distância muito grande da idade alvo, mas acho válida uma leitura com olhares diferentes sobre a obra. Pois bem, comecemos. Paula Pimenta está fazendo uma coleção de releituras das histórias de princesas. Primeiramente, lançou o livro Princesa Adormecida, a história de uma jovem que não sabia que era uma princesa e vivia fugida no Brasil com um nome diferente do seu de nascença, fugida de uma mulher má. Sim, estamos falando de Aurora, Malévola, como quiser chamar a história. Agora temos uma releitura de Cinderela. Eu nunca li o conto original, vi o filme em desenho da Disney quando eu era pequeno e algumas outras versões também adaptadas para o cinema, como Para sempre Cinderela e A nova Cinderela.
Em Cinderela Pop, a protagonista se chama Cintia e recebe uma reviravolta em sua vida. Em vez de Cinderela que teve seu pai morto quando ela ainda era uma criança, o pai de Cintia trai a mãe dela e faz com que ela more com ele, a madrasta e as duas enteadas. Curioso, não? Pois bem, as semelhanças e diferenças são bem interessantes. Cintia é muito amiga de sua tia Helena, de sua mãe e de Lara, uma amiga do colégio. Arriscaria dizer que o papel da fada madrinha aqui se divide entre a mãe e a tia que tentam fazer o máximo possível para ajudar a menina a concretizar seus desejos, sendo um deles fazer bico de Dj. Antes de falarmos de mais relações, vamos só dar uma passada rápida pela história. Cintia ficou muito irritada com a traição do pai e foi morar com a tia Helena por um tempo. Coisas acontecem e o colírio das meninas, o qual Cintia não gosta pelo o que conhece dele da mídia, acaba encontrando a adolescente em seu hobby favorito. Ser Dj. Porém, ele e ela estão com máscaras no momento e ela não o reconhece, depois, acaba se surpreendendo com a profundidade que um ícone teen pode ter.
Entre todas as cenas clássicas de Cinderela, temos as nossas favoritas. Nessas releituras deste conto eu acho interessante ver e pensar em como é aparência das atrizes que fazem a protagonista ou o retrato dito nos livros. Em Cinderela Pop, o tal príncipe encantado tem cabelo castanho, é branco e com olhos claros e na capa Cintia está sendo representada por uma menina loira em um vestido azul (sendo que a personagem nem gosta de usar vestido). Em A Nova Cinderela, Hillary Duff é a Cinderela, uma menina loira e branca e seu “príncipe” é um cara branco e de cabelo castanho claro. Percebe que segue um padrão de escolha na aparência destes personagens? Claro, há releituras de Cinderela com cabelo escuro na Disney também, mas vale ressaltadas quais foram as mais famosas. Detalhes estes que para alguns são meros detalhes e não fazem diferença, para outros podem ser causa de falta de autoestima durante um longo tempo. Com isso relaciono a questão de alisar o cabelo. Por que será que tantas pessoas negras e/ou com cabelos cacheados ou crespos se sentem feias e ficam horas no cabeleireiro para alisar o cabelo? As vezes são estas questões de representatividade que podem  diminuir o bullying na infância.
E quem não se lembra da cena do sapatinho de cristal sendo deixado na escada do palácio real? Pois bem, em algumas adaptações invés de um salto é deixado um telefone, um mp3, entretanto, Paula Pimenta resolve colocar um All Star com os naipes de baralho pintados neles. Um tanto diferente e bem escolhido já que Cintia odeia usar salto alto e ama seus All Stars. Estas diferenças acontecem também em alguns questionamentos que a protagonista faz a si mesmo, como o fato de se apaixonar por alguém pelo primeiro contato. Ok, isso pode acontecer, mas é uma coisa muito rápida e não se chama paixão, e sim uma afinidade ou desejo grandes. Paixão é algo que se é construído com o tempo. Entretanto, no decorrer da história, Cintia acaba tendo daquelas paixões adolescentes calorosas pelo tal garoto. Outro problema que encontrei no livro foi que a protagonista só se sentia bonita o suficiente quando estava maquiada e com um vestido, sendo que ela não gosta de vestido e usa muito pouca maquiagem. Sim, eu também gosto de usar maquiagem, mas não ela que tem que me fazer sentir bonito. Todos somos bonitos, cada um tem que tentar aceitar suas diferenças e aprender a se amar, porque tudo não passa de um processo.
Curioso como a mídia pode influenciar na mente de uma adolescente, não? O tom de pele perfeito, a maquiagem como a única possibilidade de se ver beleza, os mais belos vestidos para uma festa de formatura, o corpo ideal, etc. São tantas as imposições que detalhes na capa do livro podem passar despercebido, como o fato de Cintia estar atuando com Dj já que seu equipamento está em um plano mais distante na ilustração. Pra quem se interessar na questão de empoderamento negro, aqui está um canal que eu gosto muito de assistir: https://www.youtube.com/channel/UCvu2MvWjNozGxCdRlY1034Q , Papo de Preta é o nome do canal regido por essas duas lindas mulheres negras, assista os vídeos delas caso não esteja entendendo muito bem o porquê de problematizar os padrões. Em resumo, eu gostei da leitura do livro. Como acredito que todos estamos em um constante processo de desconstrução, e a autora seria o grande exemplo deste processo. Desconstrói alguns esteriótipos e imposições, mas acaba que reforça outros mais problemáticos e enraizados na nossa sociedade. Se alguém se sentir incomodado, ofendido, ou quiser conversar comigo comente aqui embaixo para que eu possa desconstruir algo mais em mim ou mande uma mensagem no facebook do blog. Obrigado, um beijão e até a próxima.




Nenhum comentário:

Postar um comentário